Minhas fases e cores.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A vida é cheia de surpresas e viradas interessantes, basta prestar um pouquinho de atenção na história de sua vida e você também irá perceber quantas lições nos são ensinadas... E quantas delas são pecebidas? Poucas, mas mesmo assim suficientes para nos transformar.
Lembrei-me esses dias, com certo humor - meio a festa de ano novo com amigos, onde todos queriam me tirar pra dançar – de quando eu era criança, com meus óculos grandes, tímida, de porte pequeno, sempre parecendo ser dois anos mais nova do que realmente era e de quando tive que dançar na escolinha, aos 5 anos e meu parzinho não queria dançar comigo.
Meu par era um menino loiro de olhos verdes, que eu não achava a menor graça, mas que todos achavam lindo. Talvez pelo jeito que ele me olhava, talvez pelo escândalo que ele fazia cada vez que tinha que ensaiar comigo, porque não queria, algo nele me era antipático...
-Eu não quero dançar com ela, ela é feia!
Usar óculos desde os três anos de idade não é algo que dê popularidade entre amiguinhos. Eu não era feia, era diferente, era pequena e de óculos, por vezes com um horrível tampão... Tenho que concordar que era de certa forma assustadora. Hoje em dia vejo crianças com tampão todo bonitinho, pequeno e de bichinhos, mas no meu tempo parecia mais um curativo, assustava um bocado. As crianças me perguntavam o que tinha acontecido com o meu olho e eu não tinha senso de humor o suficiente pra dizer que tinha perdido numa luta de espadas com um pirata – aposto que isso teria feito sucesso – apenas explicava que o médico disse que eu tinha que usar... eca!
Depois de tantos ensaios, atrasados pelo choro do menino que nunca queria dançar comigo, mas que acabava dançando porque a professora insistia em dizer que eu era bonita sim, no dia da apresentação acabei por tomar a rédia da situação. Ele não queria dançar, eu conduziria então. E fiz tão bem que acabei deitando ele no final, ao invés do contrário. Claro que ele não gostou, fez cara feia pra mim todos os dias até não vê-lo mais por mudar de escola.
Triste? Não, eu dou risada ao lembrar e na época não era mesmo tão importante o que aquele menino chato falava. Lidar com essas situações desde pequena me ensinou muita coisa e grande parte do que sou veio desse emaranhado de rejeições e ao mesmo tempo carinho. Sim, carinho porque era sempre a preferida da professora, era aquela que não faz bagunça, que é pequenina e delicada como um bebê, que vai bem nas provas... Não se pode ter tudo, eu tinha o carinho das professoras e até de muitos alunos, ja que me defendiam como a uma irmã menor e a rejeição dos que eram obrigados a dançar comigo. Tudo isso foi formando algo dentro de mim e não foi algo ruim, nem triste, foi apenas aprendizado se juntando num casulo, em busca de uma nova forma de compreensão.
Hoje vejo a imagem que eu tinha e a que eu tenho e é engraçado, até curioso, ver como o destino me contrabalanceou na vida. Antes rejeitada, hoje cobiçada... Não que os nossos amigos tentem algo comigo, claro que me respeitam, mas não se cansam de elogiar-me ao meu marido, que fica cheio como um balão por ter uma mulher brasileira. Eu sou a brasileira aqui, a pessoa diferente e interessante num habitat hungaro e por mais que eles se acostumem comigo, com meu cabelo e olhos pretos, eu sempre serei a diferente, a brasileira...
Eu sempre  parecia ter dois anos menos... horrível para uma criança, uma dádiva para uma adulta. Meu marido tem quatro anos a menos e ninguém diz que sou a mais velha.
Passamos da fase de lagarta para borboleta se soubermos juntar o aprendizado e tirar o que temos de bom de tudo aquilo que se juntou no casulo, tirar as cores mais bonitas, as formas desejadas... Da aparência repugnante e feia para asas coloridas e brilhantes, que nos dão possibilidade de voar alto, de levar conosco aquela auto-confiança que nunca foi das mais elevadas e curtir a maravilha de saber que essa é sua verdadeira cara. Tudo o que calei, tudo o que afoguei em mim viram cores, que contam minha vida, que ousam dizer meus segredos e libertam, ensinam. Essas minhas cores revelam as lições de vida, aprendo revendo minha história. Por mais que já tenha ouvido dizer que você não é o que os outros dizem de você, só agora entendo que minhas asas sempre estiveram lá, mas não estavam prontas.
E escrever... ah, escrever me deixa salpicar o mundo com minhas cores, todas que eu quiser. De bebê lagarta à mulher borboleta, saio voando e colorindo tudo, para quem quiser ver. Essa sou eu!

Para aprender a voar é preciso olhar e analisar todos os tombos.
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